Movimentações milionárias e vencedores falsos: entenda como influenciadores atuavam em esquema de rifas ilegais
14/04/2025
(Foto: Reprodução) Grupo é investigado na Operação Falsas Promessas 2, contra lavagem de dinheiro por meio das rifas ilegais. Entenda como influenciadores atuavam em esquema de rifas ilegais na Bahia
Quatro dos 25 presos em uma operação contra um esquema de lavagem de dinheiro com rifas ilegais na Bahia são influenciadores digitais. A TV Bahia teve acesso ao processo, que detalha a atuação de cada um deles no esquema.
Batizada de "Operação Falsas Promessas 2", a ação, que é um desdobramento da "Operação Falsas Promessas", foi deflagrada pela Polícia Civil (PC) no dia 9 de abril. Entre os alvos, estão rifeiros e policiais militares.
Segundo a Polícia Civil (PC), das 25 pessoas que foram presas na operação da semana passada, 23 continuam detidas e as outras, duas mulheres, foram liberadas durante audiência de custódia. Outras seis estão foragidas.
Entre os crimes detalhados, estão a movimentação milionária entre contas e a escolha de vencedores falsos para as rifas.
Influenciadores, PMs e rifeiros são presos na Bahia em operação contra lavagem de dinheiro por meio de rifas ilegais
Reprodução/Redes Sociais
Entenda a participação de cada um dos influenciadores no esquema:
Franklin de Jesus Reis;
Ramhon Dias de Jesus Vaz;
Lázaro Alexandre Pereira de Andrade, conhecido como Tchaca;
José Roberto Nascimento dos Santos, conhecido como Nanan.
Franklin Reis
Franklin Reis ficou famoso com conteúdos humorísticos.
Reprodução/Redes Sociais
A investigações apontaram que Franklin de Jesus Reis desempenhava um papel central na organização criminosa. Ele coordenava as atividades fraudulentas em parceria com o também influenciador Ramhon Dias de Jesus Vaz e o operador David Mascarenhas, com o objetivo de aumentar e ocultar o fluxo de valores ilícitos das rifas fraudulentas.
👉 Segundo as investigações, Franklin usava sua popularidade, mais de 730 mil seguidores em apenas uma das redes sociais, para atrair participantes e fomentar a circulação de recursos provenientes de jogos de azar;
👉 Também foi apontada uma associação direta de Franklin com o filho de Ramhon Dias, que tem 16 anos, para a manipulação de ganhadores fictícios para executar operações fraudulentas que favorecem a página de rifas, "Nekas Rifas", de sua autoria;
👉 Os dados financeiros obtidos no Relatório de Inteligência Financeira mostraram que Franklin tem uma participação significativa em transações suspeitas, com movimentações que totalizam R$ 6.310.162,84 para atrair participantes e fomentar a circulação de recursos provenientes de jogos de azar.
Ramhon Dias de Jesus Vaz
Influenciador Ramhon Dias foi preso nesta quinta-feira (5), em Salvador
Redes sociais
Com mais de 428 mil seguidores em apenas uma das redes sociais, Ramhon utilizava essa influência para viabilizar a prática de rifas fraudulentas através da página "Ramhon Realiza Premiações", com 84,7 mil seguidores.
As investigações apontaram que o esquema contava com a participação ativa do filho dele, de 16 anos. O garoto manipulava as rifas com o uso de CPFs de terceiros e falsificando dados dos ganhadores.
Mensagens e imagens obtidas da extração do celular do adolescente detalharam como as rifas eram manipuladas para simular ganhadores legítimos. Exemplos dessas práticas incluem:
👉 Uso de CPF de Terceiros: Como o CPF de uma mulher, empregado em apostas diversas, alterando apenas o nome fictício e dados adicionais (exemplos: "Patrick de Jesus Vaz" e "Renan Almeida Neto");
👉 Esquema de Apostas Falsas: Em diálogos no aplicativo whatsapp, o adolescente trocava mensagens com David Mascarenhas para ajustar dados fictícios e gerar "ganhadores" que mascaram o propósito de lavagem de dinheiro.
De acordo com o documento, por causa do padrão de vida ostentado por Ramhon nas redes sociais, onde exibia bens e gastos incompatíveis com uma renda lícita, foi solicitado ao COAF um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) para identificação de fluxos financeiros suspeitos.
O documento revelou informações contundentes sobre o envolvimento do influenciador no esquema de lavagem de dinheiro. Segundo o relatório, Ramhon figura entre os "top 10" dos "envolvidos frequentes" nas comunicações financeiras suspeitas, totalizando 29 comunicações como "remetente" e 25 como "beneficiário" de valores que somam R$ 19.955.648,00 entre 2021 e maio de 2024.
Ainda conforme o relatório, entre 2016 e 2022, Ramhon movimentou R$ 27.291.116,91. As principais fontes de crédito em suas contas são classificadas como transações de origem não identificada.
O Relatório também que Ramhon mantém transações financeiras significativas com membros da organização criminosa liderada por José Roberto Nascimento dos Santos, conhecido como "Nanan". A Polícia Civil da Bahia considerou que as transações demonstraram a interligação entre os diversos núcleos do grupo criminoso e reforçaram os indícios de que Ramhon atua como peça-chave na movimentação e ocultação dos recursos ilícitos gerados pelo esquema.
Tchaca
Um dos cinco policiais presos é Lázaro Andrade, conhecido como Alexandre Tchaca
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A equipe de monitoramento capturou diálogos do investigado, em que Tchaca, além de confirmar que, em 2023, fazia rifas ilegais, relatou um suposto esquema de “extorsão” envolvendo um servidor da Justiça, no qual um advogado atuaria como intermediador, cobrando R$ 80 mil para interferir em benefício dos policiais investigados.
Lázaro especificou que o valor seria cobrado para cada um dos policiais para que o juiz autorizasse apenas a busca e apreensão, indeferindo a prisão temporária.
De acordo com as investigações, após 20 dias da captação desse áudio, sobreveio decisão judicial, em 7 de janeiro de 2025, confirmando o indeferimento das prisões, e restringindo as medidas cautelares apenas à busca e apreensão.
Nanan
Rifeiro Nanan Premiações
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Nanan é Identificado como líder de uma organização criminosa complexa especializada em lavagem de dinheiro por meio de jogos de azar, principalmente as rifas ilegais. Segundo a Polícia Civil, ele usava uma rede de laranjas e empresas de fachada para encobrir as transações financeiras ilícitas. Eram parte da rede:
👉 a esposa dele, Gabriela da Silva Vale, conhecida como Gaby Rifas;
👉 os irmãos Joabe Vilas Boas Bonfim e Charles Vilas Boas Prazeres;
👉 as empresas de fachada JR Veículos, RED Casa de Eventos e Espaço de Festa NP Produção e Eventos.
Além disso, muitos dos sorteios eram simulados e os vencedores eram pessoas da rede de Nanam, como familiares, amigos ou moradores de São Felipe, cidade do interior da Bahia onde a esposa dele nasceu e onde o casal tinha as empresas de fachada.
Nanan já havia sido preso na primeira fase da Operação Falsas Promessas, em setembro de 2024. Na ocasião, a Polícia Civil detalhou que ele usava as rifas ilegais para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e detalhou que os prêmios das rifas não eram entregues.
Foi concedida a liberdade provisória e Nanan passou a usar uma tornozeleira eletrônica. Mesmo assim, seguiu divulgando as rifas ilegais em suas redes sociais.
Segundo as investigações, alguns dos bens associados a Nanan são uma Lamborghini Huracán Spyder, Lamborghini Huracán TE, Ferrari 296 GTB, avaliados em cerca de R$ 4 milhões cada.
O que dizem as defesas
Em nota, a defesa de Nanan e Gabriela da Silva, disse que a esposa do rifeiro não participa de rifa e nem de divulgação, apenas cuida da casa e dos filhos.
Quanto a Nanan, a defesa disse que ele já esclareceu que a atividade que pratica é legalizada junto a Loteria Estadual da Paraíba (Lotep), e negou envolvimento em lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A reportagem entrou em contato também com as defesas de Rahmon Dias e do PM Lazaro Andrade, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. A defesa de Franklin Reis não foi localizada.
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